quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Teatro e Oficina: Perdiz

como anda o Teatro Oficina do Perdiz?

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/07/27/diversaoearte,i=129872/OFICINA+TEATRO+PERDIZ+PADECE+SEM+ESPETACULO+E+ESPERANCA+DE+VER+ERGUIDA+A+NOVA+ESTRUTURA.shtml

segue o texto da matéria:

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SHOW DE BANZÉ »
Oficina-teatro Perdiz padece sem espetáculo e esperança de ver erguida a nova estrutura

Sérgio Maggio
Publicação: 27/07/2009 08:36 Atualização: 27/07/2009 10:16


José Perdiz enche o vira-lata Banzé de Afagos diante da Oficina-Teatro Perdiz: o sonho acabou
O semblante de tristeza de José Perdiz se desfaz toda vez que o novo astro da oficina-teatro entra em cena. Ali, ele esquece a amargura de ver o espaço cultural reduzido ao vazio. Basta o cachorro Banzé rodopiar equilibrando-se em duas patinhas para o torneiro mecânico e mecenas dos sem-palco abrir o sorrisão. O vira-lata tem sido um alento na vida deste senhor de 77 anos, que há 20 resolveu encampar a ideia maluca de fazer um espetáculo em meio ao ferro-velho.

- De noite, quando olho para a arquibancada abandonada, lembro de tanta vida que se levantou neste chão. Nem parece que foi real. Tudo foi um sonho que se foi, lamenta Perdiz.

Ao redor da declaração de Perdiz, o cineasta Piu Gomes arma o set de filmagem para dar continuidade ao curta José(s), que há dois anos reuniu ali José Celso Martinez Correa e José Perdiz, os dois donos de teatros-oficinas, numa filmagem histórica.

- É um curta que está virando um longa. A sensação que tenho é de filmagem sobre o nada. Há dois anos se costura um acordo para erguer um novo espaço e absolutamente nada acontece. Agora, a gente chega e tem essa sensação de opressão, desabafa Piu Gomes, referindo-se à marquise de construção vizinha, que avançou três metros sobre a oficina.

- O teatro aqui acabou. Sinto que estou em fim de linha e não vou deixar aos jovens artistas da cidade um espaço para a realização de peças. Isso me deixa muito amargurado, completa Perdiz, há 40 anos ocupando o terreno considerado de posse pública.

O nó de marinheiro que envolve a questão da Oficina do Perdiz, um patrimônio imaterial da cultura do DF, parecia desatado com acordo envolvendo a Secretaria de Cultura do GDF, a imobiliária do prédio vizinho e o proprietário José Perdiz para construir o novo espaço cultural em terreno na 710 Norte (bloco E, entre os lotes 32 e 54). É um espaço de 5,70m de largura onde será erguida a oficina no térreo, o teatro no subsolo e a moradia no primeiro andar. Na sexta-feira, Piu Gomes levou Perdiz para o local a fim de fazer mais uma tomada.

- Outro dia, disseram: 'Vamos começar a obra nesta semana'. Já se passaram dois meses. É um espaço pequeno para o sonho que eu tinha, de sala de música e biblioteca. Mesmo assim, gostaria muito de ver isso de pé ainda em vida, observa José Perdiz, que olha abismado um grafite recente na parede do vizinho.

No desenho, há um monge e um bobo da corte. Perdiz se perde no mundo de cores e imagens erguido pelo spray.

- Velho, ele (o monge) parece até comigo, de tão triste que está.

Visivelmente angustiado, José Perdiz recorre à metáfora para traduzir como se sente diante desse tempo estancado: a de um pugilista de 2m de altura que pega o mecânico-mecenas pela gola da camisa e soca o seu corpo sem piedade.

- Não tenho força pra escapulir dele.

Quando parece desistir de tudo, aí vem Banzé balançando o rabo. Perdiz se desmancha e enche seu cachorro de carinho.

- Banzé é o novo Zé deste filme. Acho que ele representa bem tudo isso. O homem que acolhe o cachorro vira-lata assim como abrigou o artista sem dinheiro para fazer seu teatro, compara Piu Gomes.

Memória
Sonho e pesadelo

Há duas fases na história a ser contada sobre a Oficina do Perdiz. Uma de dor e sofrimento, outra cheia de vida e de arte. São narrativas que estavam isoladas e só se encontraram em 1989, quando o diretor Mangueira Diniz teve a fagulha de encenar Esperando Godot em meio aos tornos e fresas de José Perdiz. A primeira começa em 1965, quando o trabalhador braçal de aspirações comunistas chega à nova capital do Brasil. Cheio de sonhos e ideologias, ele acaba por empenhar a vida junto com o crescimento da cidade. É aí que adquire, sem saber, terreno em área que era irregular e constrói em 1969 uma oficina na 708 Norte. Começa então um tempo de luta para pôr em ordem à posse da terra, que sucessivamente será ameaçada de despejo.

Talvez, a oficina estivesse há muito tempo no chão se não fosse o começo da segunda parte dessa história. Quando o teatro pisou ali, em 1989, subiu uma energia que contagiou a cidade. Esperando Godot provocou um burburinho em Brasília e Bella ciao, de 1991, virou alvoroço. Deu um ar de urbanidade à capital: uma peça encenada numa oficina mecânica, na qual o elenco cozinhava, comia e se deleitava ocupando todos os espaços. Até Perdiz estava em cena como um nono italiano.

A partir daí, a oficina mecânica de José Perdiz foi batizada como um templo teatral. Mais: um espaço que subverteu a ordem matemática dos criadores de Brasília, onde diversão e arte tinham setor certo para ocorrer. Perdiz abriu as portas para todos aqueles que queriam fazer teatro, tendo ou não dinheiro para pagar ao menos a conta de luz gasta com as sessões teatrais. Não à toa, todas as tentativas posteriores de derrubada da oficina-teatro foram defendidas por cordão humano formado por artistas, que se tornaram guardiões. Fizeram vigília quando os tratores chegaram bem perto.

Até o acordo final para desocupar o espaço em prol da construção de outro, legal e com escritura, José Perdiz experimentou essa gangorra de sentimentos. Do sonho ao pesadelo, do teatro à insensibilidade dos burocratas, da esperança à sensação do fim dos dias.

Obra emperrada

O secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, está preocupado com a situação no novo teatro oficina. Na quarta-feira passada, ele esteve com o procurador do Ministério Público Roberto Carlos Silva para tentar uma saída para atual impasse que emperra a obra.

- A Administração de Brasília não quer liberar a construção das arquibancadas para o teatro, alegando que a 710 Norte não é área destinada ao teatro, conta Silvestre.
De acordo com o secretário, os empresários da imobiliária estão a ponto de construir o terreno, o Derpha fez o projeto, mas a Administração empacou.

- Enquanto isso, o prédio vizinho da atual oficina está ficando pronto.

As 200 famílias vão se mudar e acabar por expulsar o Perdiz, prevê o secretário, que promete se mexer para evitar que Brasília perca a Oficina-Teatro Perdiz.

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