quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
filosofia na pista
...e se hoje acontece alguém ser louvado, por viver 'sabiamente' ou 'como um filósofo', isto quer dizer apenas que vive 'prudente e afastado'. Sabedoria: isto parece ser uma espécie de fuga para a plebe, um meio e um artifício para sair bem de um jogo ruim; mas o verdadeiro filósofo ... vive de modo pouco filosófico e pouco sábio, sobretudo bem pouco prudente, e sente o fardo e a obrigação das mil tentativas e tentações da vida - ele arrisca a si próprio constantemente, jogando o jogo ruim...
[nietzsche, além de bem e mal, 205]
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
liberdade, convicção, experiência
O espírito livre é alguém dedicado ao conhecimento, que desdenha a veneração das massas e atravessa o mundo de forma tão silenciosa quanto dele sai. Sendo 'inatual', o espírito livre não tem amarras com a 'opinião pública'. Seu oposto imediato, o homem de convicções, é aquele que crê estar em posse de verdades definitivas e, por isso mesmo, tem por postulado não poder ser refutado. O espírito livre, ao contrário, nunca fixa opiniões em convicções: ele impede essa fixação por constantes variações e só terá ao seu dispor probabilidades exatamente mensuradas. Assim descrito, o espírito livre é, antes de tudo, um experimentador. Nietzsche o opõe ao espírito servo. As cadeias as mais fortes que o espírito deve romper para libertar-se são as cadeias dos deveres, quer dizer, o respeito aos valores antigos e venerados. O espírito livre vai designando, assim, uma vontade de autonomia na determinação de si mesmo e de seus próprios valores, uma 'vontade de vontade livre'. Agora o espírito livre torna-se um experimentador curioso em face dos frutos proibidos: ele se interrogará então se não podemos inverter todos os valores; se o bem não seria o mal; se Deus não seria uma invenção; se não pode ocorrer que tudo seja falso. Sua liberdade de espírito deverá abrir-lhe a via para maneiras de pensar múltiplas e opostas, o que lhe dará o privilégio de viver a título de experiência.
[Carlos A. R. de Moura. Nietzsche: civilização e cultura. SP: Martins Fontes, 2005.]
domingo, 21 de novembro de 2010
heraclitea
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
teatro?
(...) pela primeira vez me proporcionavam ensejo de prestar um serviço, ainda que insignificante, à classe teatral, da qual me confesso um dos grandes devedores, porque lhe devo um dos intervalos mais agradáveis da vida: o que tenho passado nos teatros. Não posso fazer o cálculo, teria mesmo acanhamento de o fazer; somadas, porém, todas as horas que tenho vivido na platéia ou nos camarotes, sem contar os minutos dos bastidores, minha carreira de espectador há de preencher talvez o espaço de um ano, o mesmo tempo que tenho passado no mar, e, tanto um como outro, tenho-os como dos mais bem empregados da vida.
Joaquim Nabuco apud PRADO, Décio de Almeida. História concisa do teatro brasileiro: 1570-1908. São Paulo: Edusp, 1999.
Joaquim Nabuco apud PRADO, Décio de Almeida. História concisa do teatro brasileiro: 1570-1908. São Paulo: Edusp, 1999.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
acorda, amor
acordar lendo jornal
ou poesia?
a dançarina marcharia
a soldadesca desvaria
pra acordar:
ler jornal
ou poesia?
ou poesia?
a dançarina marcharia
a soldadesca desvaria
pra acordar:
ler jornal
ou poesia?
Teatro e Oficina: Perdiz
como anda o Teatro Oficina do Perdiz?
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/07/27/diversaoearte,i=129872/OFICINA+TEATRO+PERDIZ+PADECE+SEM+ESPETACULO+E+ESPERANCA+DE+VER+ERGUIDA+A+NOVA+ESTRUTURA.shtml
segue o texto da matéria:
***
SHOW DE BANZÉ »
Oficina-teatro Perdiz padece sem espetáculo e esperança de ver erguida a nova estrutura
Sérgio Maggio
Publicação: 27/07/2009 08:36 Atualização: 27/07/2009 10:16
José Perdiz enche o vira-lata Banzé de Afagos diante da Oficina-Teatro Perdiz: o sonho acabou
O semblante de tristeza de José Perdiz se desfaz toda vez que o novo astro da oficina-teatro entra em cena. Ali, ele esquece a amargura de ver o espaço cultural reduzido ao vazio. Basta o cachorro Banzé rodopiar equilibrando-se em duas patinhas para o torneiro mecânico e mecenas dos sem-palco abrir o sorrisão. O vira-lata tem sido um alento na vida deste senhor de 77 anos, que há 20 resolveu encampar a ideia maluca de fazer um espetáculo em meio ao ferro-velho.
- De noite, quando olho para a arquibancada abandonada, lembro de tanta vida que se levantou neste chão. Nem parece que foi real. Tudo foi um sonho que se foi, lamenta Perdiz.
Ao redor da declaração de Perdiz, o cineasta Piu Gomes arma o set de filmagem para dar continuidade ao curta José(s), que há dois anos reuniu ali José Celso Martinez Correa e José Perdiz, os dois donos de teatros-oficinas, numa filmagem histórica.
- É um curta que está virando um longa. A sensação que tenho é de filmagem sobre o nada. Há dois anos se costura um acordo para erguer um novo espaço e absolutamente nada acontece. Agora, a gente chega e tem essa sensação de opressão, desabafa Piu Gomes, referindo-se à marquise de construção vizinha, que avançou três metros sobre a oficina.
- O teatro aqui acabou. Sinto que estou em fim de linha e não vou deixar aos jovens artistas da cidade um espaço para a realização de peças. Isso me deixa muito amargurado, completa Perdiz, há 40 anos ocupando o terreno considerado de posse pública.
O nó de marinheiro que envolve a questão da Oficina do Perdiz, um patrimônio imaterial da cultura do DF, parecia desatado com acordo envolvendo a Secretaria de Cultura do GDF, a imobiliária do prédio vizinho e o proprietário José Perdiz para construir o novo espaço cultural em terreno na 710 Norte (bloco E, entre os lotes 32 e 54). É um espaço de 5,70m de largura onde será erguida a oficina no térreo, o teatro no subsolo e a moradia no primeiro andar. Na sexta-feira, Piu Gomes levou Perdiz para o local a fim de fazer mais uma tomada.
- Outro dia, disseram: 'Vamos começar a obra nesta semana'. Já se passaram dois meses. É um espaço pequeno para o sonho que eu tinha, de sala de música e biblioteca. Mesmo assim, gostaria muito de ver isso de pé ainda em vida, observa José Perdiz, que olha abismado um grafite recente na parede do vizinho.
No desenho, há um monge e um bobo da corte. Perdiz se perde no mundo de cores e imagens erguido pelo spray.
- Velho, ele (o monge) parece até comigo, de tão triste que está.
Visivelmente angustiado, José Perdiz recorre à metáfora para traduzir como se sente diante desse tempo estancado: a de um pugilista de 2m de altura que pega o mecânico-mecenas pela gola da camisa e soca o seu corpo sem piedade.
- Não tenho força pra escapulir dele.
Quando parece desistir de tudo, aí vem Banzé balançando o rabo. Perdiz se desmancha e enche seu cachorro de carinho.
- Banzé é o novo Zé deste filme. Acho que ele representa bem tudo isso. O homem que acolhe o cachorro vira-lata assim como abrigou o artista sem dinheiro para fazer seu teatro, compara Piu Gomes.
Memória
Sonho e pesadelo
Há duas fases na história a ser contada sobre a Oficina do Perdiz. Uma de dor e sofrimento, outra cheia de vida e de arte. São narrativas que estavam isoladas e só se encontraram em 1989, quando o diretor Mangueira Diniz teve a fagulha de encenar Esperando Godot em meio aos tornos e fresas de José Perdiz. A primeira começa em 1965, quando o trabalhador braçal de aspirações comunistas chega à nova capital do Brasil. Cheio de sonhos e ideologias, ele acaba por empenhar a vida junto com o crescimento da cidade. É aí que adquire, sem saber, terreno em área que era irregular e constrói em 1969 uma oficina na 708 Norte. Começa então um tempo de luta para pôr em ordem à posse da terra, que sucessivamente será ameaçada de despejo.
Talvez, a oficina estivesse há muito tempo no chão se não fosse o começo da segunda parte dessa história. Quando o teatro pisou ali, em 1989, subiu uma energia que contagiou a cidade. Esperando Godot provocou um burburinho em Brasília e Bella ciao, de 1991, virou alvoroço. Deu um ar de urbanidade à capital: uma peça encenada numa oficina mecânica, na qual o elenco cozinhava, comia e se deleitava ocupando todos os espaços. Até Perdiz estava em cena como um nono italiano.
A partir daí, a oficina mecânica de José Perdiz foi batizada como um templo teatral. Mais: um espaço que subverteu a ordem matemática dos criadores de Brasília, onde diversão e arte tinham setor certo para ocorrer. Perdiz abriu as portas para todos aqueles que queriam fazer teatro, tendo ou não dinheiro para pagar ao menos a conta de luz gasta com as sessões teatrais. Não à toa, todas as tentativas posteriores de derrubada da oficina-teatro foram defendidas por cordão humano formado por artistas, que se tornaram guardiões. Fizeram vigília quando os tratores chegaram bem perto.
Até o acordo final para desocupar o espaço em prol da construção de outro, legal e com escritura, José Perdiz experimentou essa gangorra de sentimentos. Do sonho ao pesadelo, do teatro à insensibilidade dos burocratas, da esperança à sensação do fim dos dias.
Obra emperrada
O secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, está preocupado com a situação no novo teatro oficina. Na quarta-feira passada, ele esteve com o procurador do Ministério Público Roberto Carlos Silva para tentar uma saída para atual impasse que emperra a obra.
- A Administração de Brasília não quer liberar a construção das arquibancadas para o teatro, alegando que a 710 Norte não é área destinada ao teatro, conta Silvestre.
De acordo com o secretário, os empresários da imobiliária estão a ponto de construir o terreno, o Derpha fez o projeto, mas a Administração empacou.
- Enquanto isso, o prédio vizinho da atual oficina está ficando pronto.
As 200 famílias vão se mudar e acabar por expulsar o Perdiz, prevê o secretário, que promete se mexer para evitar que Brasília perca a Oficina-Teatro Perdiz.
http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2009/07/27/diversaoearte,i=129872/OFICINA+TEATRO+PERDIZ+PADECE+SEM+ESPETACULO+E+ESPERANCA+DE+VER+ERGUIDA+A+NOVA+ESTRUTURA.shtml
segue o texto da matéria:
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SHOW DE BANZÉ »
Oficina-teatro Perdiz padece sem espetáculo e esperança de ver erguida a nova estrutura
Sérgio Maggio
Publicação: 27/07/2009 08:36 Atualização: 27/07/2009 10:16
José Perdiz enche o vira-lata Banzé de Afagos diante da Oficina-Teatro Perdiz: o sonho acabou
O semblante de tristeza de José Perdiz se desfaz toda vez que o novo astro da oficina-teatro entra em cena. Ali, ele esquece a amargura de ver o espaço cultural reduzido ao vazio. Basta o cachorro Banzé rodopiar equilibrando-se em duas patinhas para o torneiro mecânico e mecenas dos sem-palco abrir o sorrisão. O vira-lata tem sido um alento na vida deste senhor de 77 anos, que há 20 resolveu encampar a ideia maluca de fazer um espetáculo em meio ao ferro-velho.
- De noite, quando olho para a arquibancada abandonada, lembro de tanta vida que se levantou neste chão. Nem parece que foi real. Tudo foi um sonho que se foi, lamenta Perdiz.
Ao redor da declaração de Perdiz, o cineasta Piu Gomes arma o set de filmagem para dar continuidade ao curta José(s), que há dois anos reuniu ali José Celso Martinez Correa e José Perdiz, os dois donos de teatros-oficinas, numa filmagem histórica.
- É um curta que está virando um longa. A sensação que tenho é de filmagem sobre o nada. Há dois anos se costura um acordo para erguer um novo espaço e absolutamente nada acontece. Agora, a gente chega e tem essa sensação de opressão, desabafa Piu Gomes, referindo-se à marquise de construção vizinha, que avançou três metros sobre a oficina.
- O teatro aqui acabou. Sinto que estou em fim de linha e não vou deixar aos jovens artistas da cidade um espaço para a realização de peças. Isso me deixa muito amargurado, completa Perdiz, há 40 anos ocupando o terreno considerado de posse pública.
O nó de marinheiro que envolve a questão da Oficina do Perdiz, um patrimônio imaterial da cultura do DF, parecia desatado com acordo envolvendo a Secretaria de Cultura do GDF, a imobiliária do prédio vizinho e o proprietário José Perdiz para construir o novo espaço cultural em terreno na 710 Norte (bloco E, entre os lotes 32 e 54). É um espaço de 5,70m de largura onde será erguida a oficina no térreo, o teatro no subsolo e a moradia no primeiro andar. Na sexta-feira, Piu Gomes levou Perdiz para o local a fim de fazer mais uma tomada.
- Outro dia, disseram: 'Vamos começar a obra nesta semana'. Já se passaram dois meses. É um espaço pequeno para o sonho que eu tinha, de sala de música e biblioteca. Mesmo assim, gostaria muito de ver isso de pé ainda em vida, observa José Perdiz, que olha abismado um grafite recente na parede do vizinho.
No desenho, há um monge e um bobo da corte. Perdiz se perde no mundo de cores e imagens erguido pelo spray.
- Velho, ele (o monge) parece até comigo, de tão triste que está.
Visivelmente angustiado, José Perdiz recorre à metáfora para traduzir como se sente diante desse tempo estancado: a de um pugilista de 2m de altura que pega o mecânico-mecenas pela gola da camisa e soca o seu corpo sem piedade.
- Não tenho força pra escapulir dele.
Quando parece desistir de tudo, aí vem Banzé balançando o rabo. Perdiz se desmancha e enche seu cachorro de carinho.
- Banzé é o novo Zé deste filme. Acho que ele representa bem tudo isso. O homem que acolhe o cachorro vira-lata assim como abrigou o artista sem dinheiro para fazer seu teatro, compara Piu Gomes.
Memória
Sonho e pesadelo
Há duas fases na história a ser contada sobre a Oficina do Perdiz. Uma de dor e sofrimento, outra cheia de vida e de arte. São narrativas que estavam isoladas e só se encontraram em 1989, quando o diretor Mangueira Diniz teve a fagulha de encenar Esperando Godot em meio aos tornos e fresas de José Perdiz. A primeira começa em 1965, quando o trabalhador braçal de aspirações comunistas chega à nova capital do Brasil. Cheio de sonhos e ideologias, ele acaba por empenhar a vida junto com o crescimento da cidade. É aí que adquire, sem saber, terreno em área que era irregular e constrói em 1969 uma oficina na 708 Norte. Começa então um tempo de luta para pôr em ordem à posse da terra, que sucessivamente será ameaçada de despejo.
Talvez, a oficina estivesse há muito tempo no chão se não fosse o começo da segunda parte dessa história. Quando o teatro pisou ali, em 1989, subiu uma energia que contagiou a cidade. Esperando Godot provocou um burburinho em Brasília e Bella ciao, de 1991, virou alvoroço. Deu um ar de urbanidade à capital: uma peça encenada numa oficina mecânica, na qual o elenco cozinhava, comia e se deleitava ocupando todos os espaços. Até Perdiz estava em cena como um nono italiano.
A partir daí, a oficina mecânica de José Perdiz foi batizada como um templo teatral. Mais: um espaço que subverteu a ordem matemática dos criadores de Brasília, onde diversão e arte tinham setor certo para ocorrer. Perdiz abriu as portas para todos aqueles que queriam fazer teatro, tendo ou não dinheiro para pagar ao menos a conta de luz gasta com as sessões teatrais. Não à toa, todas as tentativas posteriores de derrubada da oficina-teatro foram defendidas por cordão humano formado por artistas, que se tornaram guardiões. Fizeram vigília quando os tratores chegaram bem perto.
Até o acordo final para desocupar o espaço em prol da construção de outro, legal e com escritura, José Perdiz experimentou essa gangorra de sentimentos. Do sonho ao pesadelo, do teatro à insensibilidade dos burocratas, da esperança à sensação do fim dos dias.
Obra emperrada
O secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, está preocupado com a situação no novo teatro oficina. Na quarta-feira passada, ele esteve com o procurador do Ministério Público Roberto Carlos Silva para tentar uma saída para atual impasse que emperra a obra.
- A Administração de Brasília não quer liberar a construção das arquibancadas para o teatro, alegando que a 710 Norte não é área destinada ao teatro, conta Silvestre.
De acordo com o secretário, os empresários da imobiliária estão a ponto de construir o terreno, o Derpha fez o projeto, mas a Administração empacou.
- Enquanto isso, o prédio vizinho da atual oficina está ficando pronto.
As 200 famílias vão se mudar e acabar por expulsar o Perdiz, prevê o secretário, que promete se mexer para evitar que Brasília perca a Oficina-Teatro Perdiz.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
bilhete ao filósofo
sábado, 9 de janeiro de 2010
Rilke e os versos
Pois versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos (a esses, temos cedo demais) - são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer. É preciso poder recordar caminhos em regiões desconhecidas, encontros inesperados, e despedidas que há muito sentíamos chegar - dias da infância, ainda não explicados, os pais que tínhamos de magoar quando nos davam alguma alegria e não a entendíamos (era uma alegria para outra pessoa), doenças de criança que começavam de modo tão singular, com tantas e tão profundas transformações, dias em quartos silenciosos e isolados, e manhãs no mar, o mar sobretudo, mares, noites de viagem rumorejando no alto e voando com todas as estrelas - e poder pensar em tudo isso ainda não é suficiente. É preciso ter lembranças de muitas noites de amor, nenhuma semelhante à outra, gritos de mulheres dando à luz, leves e alvas parturientes adormecidas que se tornavam a fechar. E também é preciso ter estado com moribundos, sentar-se junto aos mortos no quartinho com a janela aberta, e aqueles ruídos intermitentes. E também não basta ter recordações. É preciso saber esquecê-las, quando são muitas, e ter a grande paciência de esperar que retornem por si. Pois as lembranças em si ainda não o são. Só quando se tornarem sangue em nós, olhar e gesto, sem nome, não mais distinguíveis de nós mesmos, só então pode acontecer que numa hora muito rara brote do meio delas a primeira palavra de um poema.
Rainer Maria Rilke em "Os cadernos de Malte Laurids Brigge", tradução de Lya Luft, São Paulo, Ed. Novo Século, 2008, p. 18-19.
Rainer Maria Rilke em "Os cadernos de Malte Laurids Brigge", tradução de Lya Luft, São Paulo, Ed. Novo Século, 2008, p. 18-19.
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