quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

sertão

A Guimarães Rosa

Não permita Deus que eu morra
Sem que ainda vote em você;
Sem que, Rosa amigo, toda
Quinta-feira que Deus dê,
Tome chá na Academia
Ao lado de vosmecê,
Rosa dos seus e dos outros,
Rosa da gente e do mundo,
Rosa de instensa poesia
De fino olor sem segundo;
Rosa do Rio e da Rua,
Rosa do sertão profundo!
(Manuel Bandeira)



Retruque a Guimarães Rosa

Respondo a Guimarães Rosa
Em pé de romance assim:
Vou pedir ao Maçarico,
Vou pedir a Miguilim
Que a mano Rosa eles digam:

- "Rosa, não seja ruim.
Faça a vontade do bardo,
Ainda que bardo chinfrim!"
E eu secundo: Mano Rosa,
Rosa, rosai, rosae, rosae,
Vou aos meus dias pôr um fim.
Antes, porém, me prometa,
Pelo Senhor do Bomfim;
Que à minha futura vaga
Você se apresenta, sim
Muito saudar a Riobaldo,
Igualmente a Diadorim!?
(Manuel Bandeira)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

abateraberta

a porta que tento bater nunca está aberta

essa ousadia que é abrir mão do quero,
por não me contentar com menos.

não me deixa bater a porta
aberto o meu querer sereno

ameno como a lava do vulcão
sereno como o fogo
da madrugada
que pousa sobre as folhas
em gotículas de água

orvalho
a ousadia lava a cara da gente

pra ficar mais aberta
e beijo

quarenta anos para 1968

a revolução está se consumindo...
a consumação está revolucionando...

a consumação do consumo incessante revoluciona todas as condições a ponto de revolver a terra por baixo, a mais profunda grota da terra, para extrair todo o óleo petróleo matéria prima de toda química plástica poligrotesca donde o monstro de óleo e plástico surgirá do acúmulo carbônico dos oceanos e rios, godzilla é a superação revolucionária da sociedade de consumo.

a imaginação está tomando o poder!

poemineirinsô

doncôvim?
oncotô?
proncovô?
quemcossô?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

depressão a vinte metros

acorde pessimista, mesmo com a luz do sol e do céu brilhando sobre sua cabeça
acorde pessimista e previna-se da depressão,
mal que acomete especialmente os otimistas e esperançosos de toda espécie

o pessimismo radical é apenas
uma visão clara sobre o homem
ser jogado no mundo sem opção de escolha
sem conhecimento de fins ou causas
apenas com a clara, ofuscante consciência da finitude

o pessimismo mostra que a felicidade é uma ilusão
mas libertar-se da ilusão permite-lhe as alegrias possíveis

o mais próximo da realidade possível

que alegria é possível na queda constante no abismo?
a beleza das escarpas passando,
a paisagem, os encontros em plena queda

desfazimento, dissipação, difusão

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

cabelos de praia

no banheiro do elevador
as risadas das bruxas
as crianças riem
a porta abre e fecha

descruzando o corpo
moreno
dourado
de sol

a beleza eqüina
das longas crinas
a força cavalar das pernas
e as narinas, impetuosas
e eternas

ela vai, não vai?
a bi bia

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

pensância

é a tentância que leva à conseqüência,
e não a tendência, como erradamente ora se crê.

a tendência leva à ambulância,
assim como a clemência leva à jactância.

mesmo a tentância é apenas um grão de areia
diante da imensa força da abertura, de deixar ser
a deixância, a abrência
é a própria movência da magma universia

água que passa, jarro que não existe para conter

a continência é uma inconsistência

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

auto destruição

como acolher cupins em casa de madeira
viver é escorrer pelo ralo
desperdiçar a vida
criar sempre nada
apenas consumir e parasitar

tanatos tantas vezes vence eros
a errância de eros vira tanatos
jarro sem fundo

a beleza é fátua
alegrias fátuas
vida temporária
efeméride

a auto destruição não é minha
não é do eu, não é de si
o eu não há
quem se destrói é a mesma força criadora do universo
senhor sriva nataraja
a dança da criação e da destruição

o que querem os genes ao se reproduzir?
ao gerarem sempre uma nova geração?

esta força contrária da única
criação destruição

sábado, 5 de janeiro de 2008

para a infância que passou



penso, penso, penso
e acabo por pensar
que sem pensar
também se pensa

deu um perdido, deixou no vácuo

lei de darwin já dizida

errando bastante
a natureza evolui na medida

silogismo ao maracujá

tudo é negócio, tudo é negação do ócio, isso é o capitalismo.

é no ócio que se processa a evolução.

logo,

descansar é a revolução.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

espelho

a alma incomoda dentro de nós:
se vazia é cheia, se cheia torna-se vazia.
realmente incomoda! e desacomoda...
nem quando dorme se acomoda?

inhamantra

inhame, inhame, inhame
mais se come mais se inhame

inhame, inhame, inhame
mais se come mais se inhame

erro

não tenho medo de errar
meu erro
é ter medo de acertar

Guêróba - pra Wanina...


[canto]

guariroba com jiló, com jiló, com jiló
é bom de fazer dó!

e jiló com guariroba
come muito e nunca sobra
e jiló com guariroba
come muito e nunca sobra

guariroba com jiló, com jiló, com jiló
é gostoso de dar dó!

ano novo



Carrega-me contigo, Pássaro-Poesia
Quando cruzares o Amanhã, a luz, o impossível
Porque de barro e palha tem sido esta viagem
Que faço a sós comigo. Isenta de traçado
Ou de complicada geografia, sem nenhuma bagagem
Hei de levar apenas a vertigem e a fé:
Para teu corpo de luz, dois fardos breves.
Deixarei palavras e cantigas. E movediças
Embaçadas vias de Ilusão.
Não cantei cotidianos. Só te cantei a ti
Pássaro-Poesia
E a paisagem-limite: o fosso, o extremo
A convulsão do Homem.

Carrega-me contigo.
No Amanhã.


Hilda Hilst

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

revorteio

"fomos maus espectadores da vida, se não vimos também a mão que delicadamente - mata".

"enquanto o tempo não trouxer teu abacate amanhecerá tomate e anoitecerá mamão".

"o pior com nossos problemas é que ninguém tem nada com isso".

"se você quer ser feliz, seja".